Eric Digues vive papel mais intenso da carreira em ‘Guararapes – O Filme’

Ator pernambucano encarna a brutalidade da guerra como Coronel Hauthyn em superprodução histórica gravada em Jaboatão dos Guararapes

No coração do Engenho Cananduba, em Jaboatão dos Guararapes, entre canhões cenográficos, figurinos de época e mais de 400 figurantes, uma presença se impõe com intensidade: Eric Digues, ator pernambucano, dá vida ao temido Coronel Hauthyn em Guararapes – O Filme, uma das produções mais ambiciosas do cinema histórico brasileiro recente.

Conhecido por papéis marcantes no teatro e em produções audiovisuais regionais, Digues mergulha agora em um dos maiores desafios de sua carreira: interpretar um comandante colonial cruel, frio e obcecado pelo poder de destruição. “Hauthyn não é só um vilão. Ele representa o lado mais desumano da guerra, aquele que mata pelo prazer e pelo controle”, diz o ator.

Uma atuação crua e impactante

Eric Digues constrói o personagem a partir de um silêncio carregado. Hauthyn não grita, não discursa, não negocia. Ele explode. Sua presença em cena é marcada por uma raiva contida, uma tensão que se sente mesmo sem palavras. “Ele é seco, objetivo. Ele entra e resolve com violência. Não tem discurso. Tem explosão”, resume o ator.

A atuação exigiu de Digues um preparo emocional intenso. Para compor o personagem, o ator estudou comandantes de guerra reais, buscou referências no cinema internacional e mergulhou em leituras sobre a violência como instrumento de poder. “Foi um processo difícil, porque não é fácil se colocar no lugar de alguém que se alimenta do terror. Mas, ao mesmo tempo, é um desafio fascinante como intérprete”, comenta.

Um ator em ascensão

Eric Digues vem ganhando destaque na cena cultural do Nordeste. Natural de Recife, ele tem formação em artes cênicas e trajetória sólida nos palcos, com passagens por grupos de teatro político e experimental. Sua carreira no audiovisual começou com participações em curtas-metragens e séries para plataformas digitais.

Com Guararapes – O Filme, Digues chega a um novo patamar. A superprodução dirigida por Geraldo Dias e Chris Oliver resgata a história das Batalhas dos Guararapes — episódios decisivos da luta contra os holandeses no século XVII — com um olhar crítico e contemporâneo, fugindo da narrativa eurocêntrica tradicional.

Set grandioso movimenta Jaboatão

A escolha de filmar em Jaboatão dos Guararapes, local histórico dos conflitos originais, deu ao projeto uma aura de autenticidade e força simbólica. As gravações nos dias 25, 26 e 27 de abril contaram com uma megaoperação: 400 figurantes, 40 atores, dezenas de profissionais técnicos e logísticos.

Um dos momentos mais emblemáticos das filmagens foi a participação de 50 indígenas Potiguaras da Baía da Traição (PB), descendentes diretos dos povos que participaram das batalhas reais. Para Eric, contracenar com os Potiguaras foi uma experiência transformadora: “Eles trouxeram uma verdade que nenhum ator conseguiria encenar. Estavam ali não apenas como parte do filme, mas como parte viva da história”, afirmou.

Um vilão necessário

Se por um lado o Coronel Hauthyn causa repulsa, por outro, sua existência é essencial para que a narrativa de Guararapes provoque o espectador. A guerra, tal como o filme propõe, não é feita de heróis gloriosos e antagonistas caricatos, mas de interesses, violências e resistências. Hauthyn é a encarnação da dominação colonial — e Eric Digues consegue, com precisão, representar essa faceta sombria da história.

“O público vai odiá-lo. E é justamente esse o objetivo”, brinca o ator. “Mas também espero que entendam que o mal, nesse caso, não é um exagero de ficção. Ele existiu, teve nome, patente e deixou cicatrizes reais.”

Compromisso com a história

A proposta de Guararapes – O Filme é mais do que uma reconstituição de época. É um manifesto pela valorização das narrativas silenciadas. Com roteiro do historiador Adriano Marcela e adaptação de Chris Oliver, o filme coloca no centro da história os negros, indígenas e mestiços que resistiram à ocupação estrangeira.

Segundo o diretor Geraldo Dias, o trabalho de Eric Digues como Hauthyn é fundamental para esse reposicionamento da narrativa. “Ele dá corpo ao inimigo. Ao fazer isso com tanto rigor, permite que os verdadeiros heróis da história ganhem ainda mais luz”, afirma.

Estreia aguardada

Com previsão de estreia para setembro de 2025, Guararapes – O Filme já é tratado como um dos grandes lançamentos do próximo ano no circuito nacional. A produção conta com o apoio da Lei Paulo Gustavo, por meio do município de Jaboatão dos Guararapes, e promete emocionar e provocar o público com sua abordagem corajosa.

Para Eric Digues, o filme é um divisor de águas: “Foi o trabalho mais difícil e mais recompensador da minha vida. Saio dessa experiência não só como um ator mais preparado, mas como uma pessoa mais consciente da história do meu país.”

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